no Pós-Autárquicas: ecos de uma Conversa de Vizinhos

 “No pós-Autárquicas 21” é uma iniciativa que retoma a “Agenda Cidadã 2030” identificando os desafios que se colocam aos cidadãos e às entidades capazes das respostas necessárias à melhoria sustentada da nossa vida coletiva (*1).

1-

O futuro devia interessar-nos a todos pois é o lugar onde vamos passar o resto das nossas vidas, dizia, sem ironia, o comediante George Burns. Sendo isso verdade, há várias questões que cada um de nós pode e deve colocar: em que futuro queremos viver?, que caminhos alternativos existem para lá chegar?, que papel podemos ter nessa viagem?

Os atos eleitorais são um dos raros momentos de escolha de rumo até ao lugar de que fala Burns. Lamentavelmente, cada vez menos pessoas desejam participar nessas escolhas, e dos que votam normalmente uma parte não conhece as propostas em sufrágio. Estranhamente, pouco tem sido feito para tornar as escolhas coletivas mais informadas e participadas.

Respondendo a este desafio, os Vizinhos de Aveiro organizaram-se e criaram uma oportunidade para os seus concidadãos questionarem publicamente as oito candidaturas que concorriam às eleições para o Município de Aveiro, que prontamente aceitaram o repto, em conversas on-line de 60 minutos moderadas por jornalistas reputados, Maria José Santana do Público/Aveiro Mag. João Paulo Costa do Jornal de Notícias e Ivan Silva do Diário de Aveiro.

Os eventos foram transmitidos em várias páginas e grupos Facebook que se associaram à iniciativa e chegaram, no seu conjunto, a mais de 8.000 visualizações.  Para além disso, os Vizinhos disponibilizaram no seu site https://vizinhos-aveiro.pt/autarquicas-2021/ os programas eleitorais das várias candidaturas para que os cidadãos antes de escolher pudessem lê-los e, se tivessem dúvidas, questionar os candidatos.

2-

No passado dia 26 de setembro, os eleitores aveirenses votaram e deram uma maioria expressiva à Aliança com Aveiro, reforçando a votação obtida há quatro anos (mais 762 votos, um aumento de 4,5%). A coligação Viva Aveiro teve um resultado muito abaixo do somatório do PS e PAN, com menos 2.954 votos, uma redução de 24,9%. Em resultado desta escolha, a Aliança fica com seis eleitos no executivo (51,3%) e a Viva Aveiro com três (26,0%). Para além destes resultados, a CDU perdeu 18% e o Bloco de Esquerda 7%, tendo este mantido a terceira posição, não conseguindo, no entanto, eleger o vereador desejado. O partido Chega ultrapassou a CDU como quarto partido mais votado. A IL, o Nós Cidadãos e o PCTP MRPP fecharam a lista.  Lamentavelmente, a abstenção aumentou para um valor próximo dos 51,5%, um valor semelhante ao dos últimos atos eleitorais locais.

3.

A necessidade de compreender os resultados eleitorais levou o coletivo “Vizinhos de Aveiro” a promover, na noite do passado dia 28 de setembro, uma conversa de balanço e de perspetiva de futuro, cujo conteúdo pode ser ouvido no Facebook dos Vizinhos de Aveiro.

Estiveram presentes os oitos candidatos, mesmo os que saíram derrotados, numa conversa aberta e franca, reveladora de uma maturidade democrática assinalável, o que deve ser enaltecido. Os dois comentadores convidados, Filipe Teles e Pompílio Souto, ofereceram-nos uma leitura útil e relevante para compreender os resultados e para perspetivar o futuro.

Do diálogo realizado, saíram quatro mensagens fortes.

Primeiro, que as agendas que os partidos apresentaram aos cidadãos não corresponderam ao que eles desejam ou que os preocupa verdadeiramente. Há efeitos bolha (por exemplo o que ocorre em circuitos fechados, como o das redes sociais virtuais) que ampliam determinadas questões e que lhes conferem um peso e importância exagerada, podendo dar uma ideia errada do que são as verdadeiras preferências dos cidadãos.

Segundo, que a abstenção eleitoral mostra um descontentamento com o sistema político partidário o que não significa que os cidadãos não se interessem com a sua vida coletiva. Porventura, poderão estar mais disponíveis para outras formas de participação, nomeadamente cívica.

Terceiro, e quanto ao futuro, será necessário atender melhor às preocupações dos cidadãos que não têm voz, sobretudo os que sentem que os seus problemas não possuem a centralidade necessária na agenda política e mediática (os idosos, os jovens, os estudantes, as famílias, os migrantes, as pessoas com condição económica e social mais frágil) e essa agenda tem de ser disputada ao longo do mandato (por quem governa e pelas oposições) e não no período eleitoral.

Quarto, houve apelos a um estilo de governação, com um modelo mais aberto, de procura de consensos e de mobilização dos vários atores públicos, privados e da sociedade civil organizada, com visão estratégica e assertividade nas apostas.

Que o próximo mandato mobilize partidos e cidadãos para responder a estes desafios!

(*1)       A Iniciativa “No pós-Autárquicas 21” que retoma a “Agenda Cidadã 2030” identificando os desafios que se colocam aos cidadãos e às entidades capazes das respostas necessárias à melhoria sustentada da nossa vida coletiva;

A “Agenda Cidadã 2030” é o resultante de uma Iniciativa da PLATAFORMAcidades que envolveu a CMA, UA e os 20 mais relevantes decisores da Cidade-região identificados num Estudo da FFMS – a Qualidade da Governação Local – coordenado por Filipe Teles (e outros).

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(*) José Carlos Mota é Prof. na Universidade de Aveiro e membro da PLATAFORMAcidades – grupo de reflexão cívica

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